A delicadeza, sem força, é um carinho sem tônus, que não confronta.
A força, sem delicadeza, é um tônus reativo, que não cuida.
A força delicada é um tônus que acolhe.
A delicadeza forte é um carinho que protege.
Quem são os homens que, hoje, arriscam ser delicados, sem abrir mão da sua força?
Quem são os homens que, hoje, sustentam ser fortes, revestindo-se de delicadeza?
Conseguir massagear a dor do mundo com mãos que não se acovardam, nem a apertam até sufocar.
Conseguir massagear a própria dor com mãos que entram firmes e sensíveis no próprio coração.
Respirar o ódio que atravessa as estranhas, para que ele esquente o sangue da compaixão, em vez de estourar as veias da sensibilidade.
Insuflar no corpo macio a vitalidade que nos motiva a seguir em frente e fazer o que precisa ser feito, sem preguiça ou lentidão.
Ter o vigor para manter-se imóvel diante do chacoalhão do vento, e doce para recebe-lo como um presente de Deus.
Curar o que nos aflige com uma mão que corta e outra que afaga.
Ter firmeza para ouvir o grito sem desabar, e empatia para entrar em ressonância com a voz que nos atravessa.
Mover-se com os músculos de um guerreiro e as articulações de um dançarino.
Trazer na voz o tom grave que desce até o centro da terra e o timbre agudo que sobe até os céus.
Ter delicadeza para sorrir e força para nada expressar se não “eu estou aqui”.
Ter força para cuidar de todos e delicadeza para cuidar de si.
Ser delicado para abrir as portas de casa e força para sustentar a solidão.
Ser forte para sustentar os ideais e delicado para ampliá-los com a escuta dos demais.
Legitimar a própria existência por reconhecer a poesia delicada da vida em cada segundo de ser quem se é, e ter força para sustentar o seu valor tanto no palco da aprovação alheia, quanto quando estamos sozinhos, olhando apenas para o espelho de nossa alma.
Ser feliz, arrebatado por toda a delicadeza e força de viver.